Dr Valter Casarin
Chegando em minha casa, vejo minha vizinha esbravejando com a árvore que fica em minha rua. Ela estava entediada com as folhas e flores que diariamente deveriam ser varridas. Sua vontade era de cortar aquela árvore, pois ela ocasionava muita sujeira em frente a sua casa. Sabendo da minha profissão (engenheiro agrônomo e florestal), pediu minha ajuda para conseguir a autorização para cortá-la.
Esse artigo é um acontecimento real e é parte dos meus argumentos para informa-la sobre os benefícios que as árvores trazem para o meio urbano. Os benefícios são muito maiores quando comparados com os problemas trazidos por elas. Precisamos saber selecionar as espécies arbóreas para as condições urbanas, principalmente com relação ao sistema radicular (evitar a destruição da calçada) e seu porte (fiação elétrica).
A vegetação sob todas as suas formas (árvores, arbustos e espécies herbáceas, árvores isoladas, em bosques ou arboretos) constituem um elemento dos ecossistemas urbanos e naturais. De maneira geral, desconhecemos o quanto são subestimados os efeitos da presença da vegetação na cidade. A vegetação no meio urbano nos assegura o contato com as variáveis naturais do ecossistema e, em particular com um ser vivo outro que o humano. Sempre dispensamos muitos cuidados e atenção às plantas que, de mais em mais, fazem parte da nossa vida interior. Por que não fazemos da mesma forma para nossa vida exterior? O indivíduo, tendo necessidade de viver em contato com um meio menos alienante e mais sadio, deveria dar uma maior importância à vegetação presente no meio urbano.
O aumento da temperatura nas cidades em relação ao campo, a presença de corredores de vento criados pelos altos edifícios, pelas ruas ou pelos buracos no tecido urbano, a baixa taxa de umidade provocada pela insuficiente quantidade de árvores e de superfícies gramadas nos indicam a importância, e mesmo a urgência de introduzir a vegetação no meio urbano, através de plantio de árvores de rua e pela conservação e melhoramento dos espaços verdes urbanos e periurbanos existentes.
O efeito mais evidente sobre o microclima é a sombra. A árvore absorve e reflete as radiações solares de tal maneira que o indivíduo procura a sombra em dias ensolarados e de grande calor. A absorção das radiações provenientes do sol permite, igualmente as árvores, reduzir diferenças entre temperaturas diurnas e noturnas. Debaixo de uma cobertura de árvores, os dias serão menos quentes, enquanto que as noites serão menos frias.
A presença de árvores e florestas contribui na redução de poeiras, de diferentes poluentes químicos e os germes microbianos. A poeiras são de origens diversas. Elas provêm da circulação e da atividade urbana em geral por onde veiculam os produtos químicos e os micróbios patogênicos. A folhagem permite uma certa filtragem das poeiras, seguidas de sua lavagem ao solo por intermédio da água das chuvas.
O efeito da vegetação sobre o ar poluído é muito diferente; os poluentes podem ser absorvidos e transformados pela vegetação (anidrido sulfuroso, gás carbônico e ozônio) ou ser absorvido e acumulado sem transformação pelo vegetal (chumbo).
Preservando os espaços verdes é possível reduzir o volume de água das enxurradas, proteger as fontes de água e prevenir ou reduzir os danos ocasionados pelas inundações. A presença de espaços verdes permite limitar a poluição das águas de superfícies que escoam sobre os espaços pavimentados.
Os espaços abertos no meio urbano podem se degradar rapidamente quando na ausência de cobertura vegetal. Essa condição torna a superfície do solo mais sensível ao impacto das gotas da chuva e à força do vento, particularmente em solos com acentuada declividade.
A vegetação em meio urbano e periurbano, ajuda a definir e a separar os espaços exteriores. Nas zonas residenciais ou áreas verdes públicas, a vegetação assegura a característica privada de certos espaços.
Estando nossa sociedade cada vez mais preocupada com a manutenção da qualidade do meio ambiente, seria conveniente desenvolver uma rede de interpretação da natureza para os alunos escolares; os espaços arborizados nas proximidades das escolas e residências representam locais privilegiados de contato com o meio natural.
Enfim, por que os municípios e a população em geral devem estar conscientes da importância das árvores em seu cotidiano?
1. Porque elas cumprem funções essenciais e que sua presença provoca benefícios estéticos, sociais, psicológicos (melhora a qualidade de vida), econômicos (incidência sobre o valor das propriedades, atrativo turístico) e ecológicos (fauna, flora e qualidade da água), além de benefícios para a qualidade do ar e do controle do clima e da erosão.
2. Porque cada vez mais é reconhecida a importância das árvores, de sua proteção e de seu valor para as gerações presentes e futuras.
3. Porque o desenvolvimento urbano pode representar uma ameaça direta à sobrevivência de certas árvores e espaços arborizados.
4. Porque um município rico em árvores e espaços verdes tem uma característica e uma personalidade cuja população tem orgulho e os visitantes podem aproveitar.
5. Porque as árvores possuem um verdadeiro valor monetário reconhecido pelos agentes imobiliários, os arquitetos, paisagistas, os horticultores, os engenheiros agrônomos e florestais, os viveiristas e outros.
Frente a qualquer “transtorno” que as árvores urbanas possam ocasionar, como a queda de folhas e flores, deve-se ressaltar os vários benefícios que elas proporcionam para a qualidade de vida da comunidade.
Proteger as árvores é vital!
Valter Casarin, engenheiro agrônomo, é coordenador científico da iniciativa Nutrientes Para a Vida (NPV)
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