Dependência de Fertilizantes na Produção de Alimentos no Brasil

Dependência de Fertilizantes na Produção de Alimentos no Brasil

fertilizantes
Valter Casarin, Coordenador Científicos da NPV

 

A produção agrícola no Brasil tem desempenhado um papel crucial em alimentar uma população global em crescimento. No entanto, essa conquista não é isenta de desafios, especialmente quando se trata da dependência do país em relação aos fertilizantes. Neste artigo, exploraremos a importância dos fertilizantes na agricultura brasileira e os impactos de sua crescente escassez e aumento de preços. Vamos analisar as medidas que estão sendo tomadas para reduzir essa dependência e garantir a segurança alimentar no país. Acompanhe-nos nessa jornada pela agricultura e fertilizantes no Brasil.

A agricultura brasileira caminha a passos largos para se tornar a maior potência agrícola mundial. Atualmente, o Brasil é responsável por alimentar 1 em cada 8 habitantes do planeta, ou seja, cerca de 1 bilhão de pessoas. Esse gigante é o principal produtor de importantes culturas, como soja, milho, algodão, café, laranja e cana-de-açúcar.

A constante quebra de recordes de produção está alicerçada sobre um solo ácido e pobre em nutrientes, principalmente os solos de Cerrado. Em muitas situações, são feitas duas ou três safras em uma mesma área. Essa situação faz com que a nossa agricultura seja totalmente dependente do uso de fertilizantes. Assim, qualquer problema no preço ou no abastecimento desse insumo, afeta consideravelmente o nosso setor agrícola.

O Brasil é o 4º maior consumidor mundial de fertilizantes minerais e importa 85% da sua necessidade, ou seja, produzimos apenas 15% do nosso consumo. Os dados são mais preocupantes quando avaliamos os três principais nutrientes aplicados na adubação das culturas agrícolas, o NPK, revelando que o país importa 95% do nitrogênio, 75% do fósforo e 91% do potássio que consome. 

A alta dos preços dos fertilizantes minerais e o conflito entre Rússia e Ucrânia, somado às sanções impostas sobre a Bielorússia, criou um alerta para a possível escassez de fertilizantes. Quase 23% das importações são provenientes da Rússia, incluindo metade do potássio consumido nacionalmente. Já a Bielorrússia, que fornece quase 7% dos fertilizantes usados ​​no Brasil, anunciou que não pode mais honrar seus compromissos, com o fechamento de sua fronteira com a Lituânia.

Esse cenário aqueceu os preços dos fertilizantes, mas o produtor rural brasileiro tem consciência da necessidade do uso desse insumo para manter o rendimento das culturas. As informações atuais são de crescimento no volume importado de fertilizantes, quando comparadas com o mesmo período de 2021. 

A pergunta que não quer calar é a seguinte: até quando o Brasil será refém da importação de fertilizantes? O governo brasileiro anunciou, no início de março, o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), que tem como principal objetivo, até 2050, reduzir o volume de importação dos atuais 85% para 45%. Para isso acontecer o Brasil deseja aumentar a exploração das fontes minerais nacionais.

Dentre os principais nutrientes a serem explorados, o potássio é particularmente visado. As minas de cloreto de potássio estão presentes em nosso território, mas apresentam dois problemas particulares. As localizadas em Sergipe são tecnicamente de difícil acesso, o que compromete o interesse econômico. A outra limitação é relacionada às minas localizadas na Amazônia, que muitas vezes estão em territórios indígenas e protegidos.

Inevitavelmente, com todo o panorama da crise de fertilizantes, os custos de produção irão aumentar significativamente e o produtor rural vai buscar caminhos e alternativas para continuar produzindo o nosso alimento de cada dia. Alguns poderão utilizar fertilizantes com menor tecnologia, outros poderão reduzir a adubação ou mesmo diminuir a área plantada. Esse é o momento para avaliar cada situação e encontrar a melhor solução diante da crise.

Pode-se afirmar que sem fertilizantes a produção das culturas será reduzida significativamente. Se o Brasil pretende se firmar como potência agrícola mundial, esse é o momento para investimentos no setor de fertilizantes. O país não pode seguir na dependência da importação para exercer a sua principal vocação, que é a agricultura. 

O raciocínio por trás do uso de fertilizantes está na geração de alimentos para uma população crescente, com a nutrição equilibrada das plantas por meio da adubação. É dessa forma que esses insumos ajudam na segurança alimentar do planeta e nosso país tem grande responsabilidade nessa missão.

 

Sobre o professor Valter Casarin

 

Dr. Valter é graduado em Engenharia Agronômica pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP/Jaboticabal e Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Concluiu o mestrado em Solos e Nutrição de Plantas em 2003, pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Recebeu o título de Doutor em Ciência do Solo pela École Nationale Supérieure Agronomique de Montpellier (França), em 1999. Foi professor nos cursos de graduação de Agronomia e Engenharia Florestal na Universidade de Taubaté (UNITAU) e Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal (FAEF), Garça.  Trabalhou com pesquisa e desenvolvimento de produtos em empresas de fertilizantes foliares. Entre 2009 e 2018 foi Diretor Adjunto do International Plant Nutrition Institute (IPNI), Programa Brasil. Atualmente é professor do curso de especialização do Programa SolloAgro, ESALQ/USP, e coordenador científico da iniciativa Nutrientes para a Vida. Atua, também, como colaborador técnico da NPCT.

Sobre a NPV 

A NPV – Nutrientes para a Vida – nasceu com objetivo de melhorar a percepção da população urbana em relação às funções e os benefícios dos fertilizantes para a saúde humana. Braço da fundação norte-americana NFL – Nutrients For Life – no Brasil, a NPV trabalha baseada em informações científicas. A NPV tem sua sede no Brasil, é mantida pela ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos) e operada pela Biomarketing. A iniciativa conta ainda com parceiros como: Esalq/USP, IAC, UFMT, UFLA e UFPR.

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